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Sindicato dos Bancários participa de ato da CUT contra o racismo

Em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Sindicato dos Bancários de Guarulhos e Região foi às ruas da Capital paulista para falar sobre os 130 anos de abolição inacabada, completados neste mês, e dizer que basta de racismo. O evento aconteceu na praça do Patriarca e transformou-se numa aula pública com depoimentos de dirigentes sindicais e da população.

 

“Momentos como esse são importantes para dialogarmos com a população e contar a história de nossos antepassados, de como era a vida deles, e porquê sofremos as consequências do racismo, dessa falsa liberdade, da abolição que os deixou a mingua, até os dias atuais”, disse Luis Carlos dos Santos, presidente do Sindicato.

 

Maria Silva* (nome fictício a pedido da depoente) que, a caminho do trabalho, de uniforme, percorria as ruas do centro quando se deparou com a atividade organizada pela CUT-SP. Mulher negra, moradora da zona leste de São Paulo, mãe de três filhos, ela relatou, aos prantos, o sofrimento por ter visto a prisão de um de seus filhos.

 

“Faz um ano e um mês que prenderam meu filho de forma injusta. Prenderam um inocente. Foi no dia em que ele tinha passado na entrevista de emprego para a empresa Italínea, já que ele sempre amou fazer móveis planejados. Ele iria me contar a novidade quando eu pedi a ele que antes fosse resolver uma situação pessoal para mim”, disse.

 

Foi no caminho, conta Maria, que seu filho, um jovem negro de 34 anos, foi enquadrado por policiais militares, na periferia da capital. Na mesma hora, o outro filho de Maria correu até em casa para contar o que havia acontecido, como ela explica.

 

“Fui até a rua e questionei o policial por que estavam prendendo o meu filho? Ele disse que levariam ele para depor por causa do roubo de um carro. Meu filho, um homem trabalhador, que nunca se envolveu com nada. Ninguém buscava pelo meu filho, pegaram ele ao acaso, no meio da rua. Levaram ele para a delegacia e o algemaram sem provas. Passado um tempo, a testemunha do assalto disse na audiência que não reconhecia meu filho e, mesmo assim, o promotor de justiça, Alexandre Demétrius Pereira (do Ministério Público do Estado de São Paulo), o acusou de ladrão, mesmo sem nenhuma prova. E a juíza foi lá e condenou”, explica.

 

O filho de Maria, réu de primeira instância, foi levado ao regime fechado para a Penitenciária Osvaldo Cruz, que fica a 8 horas de São Paulo. De acordo com dados da Secretaria de Administração Penitenciária, com capacidade para 844 detentos, o presídio, superlotado, tem hoje 1.948 sentenciados.

 

“Não foi só com meu filho que isso aconteceu. Eu viajo oito horas para ir ver meu filho, uma vez por mês, e, nessas andanças, eu conheci muitas mães na mesma situação. E é por causa da cor da gente que isso acontece. São os pretos que mais passam por isso no Brasil”, revolta-se Maria que, aos 53 anos, vê sua família ser desestruturada pela decisão tomada pela Justiça paulista.

 

Para a aposentada Geni Aparecida de Oliveira, 57 anos, é importante resgatar a memória dos antepassados que resistiram a um Brasil racista e violento. “Minha vó era neta de escravizados. Ela passou a vida inteira trabalhando em troca de comida. Escravizada a vida inteira, quando tinha uma idade mais avançada, ela pegou uma tuberculose. E morreu sozinha, sendo enterrada como indigente”, lembra.

 

Segundo, Geni, que aos 9 anos de idade virou empregada doméstica e nunca mais parou de trabalhar, sua mãe também teve um caminho difícil. “Foi uma longa estrada para chegar até aqui. E, certamente, sou uma nova geração fruto dessa resistência. Assim como minha avó e minha mãe, eu nunca desisti.”

 

Geni foi doméstica, metalúrgica e servente de escola até se aposentar. Mas resolveu estudar durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que investiu em política publicas de reparação e de igualdade.

 

“Tentei por seis anos seguidos o ProUni (Programa Universidade para Todos), até que consegui entrar na faculdade para cursar Letras, aos 51 anos. Hoje estou me pós-graduando e tenho muitos sonhos pela frente”, emociona-se.

 

Confira a galeria de fotos com a participação do Sindicato abaixo:

 

 

Com informações da CUT/SP e Seeb Guarulhos

 

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